RITO DE PASSAGEM / Silvio R. Silva
Embora completamente independente da cena artística autodenominada Literatura Marginal, a ficção de Silvio R. Silva é forjada no mesmo ambiente da periferia de onde aquela tendência se propaga.
Devemos talvez a isso a forma desassombrada com que ele aborda temas delicados, como a abreviação da infância (Rito de Passagem, Desprezo), o preconceito (O Sogro, Eduardo) ou a violência exercida por agente público (A Chacina, Fátima e a Floresta).
Mas o fio condutor que une os contos aqui reunidos, e lhes dá integridade, não reside necessariamente em razões de origem, e sim em certa pulsação fundamental que os permeia, uma obsessão primitiva, como se o autor estivesse procurando nas entrelinhas dos seus próprios textos algo que pudesse chamar de Verdade.
Cabe ao leitor descobrir se alguma vez ele a terá vislumbrado.
Trecho de "A Chacina"
“... Fechei os olhos e percebi que ainda tinha guardado no fundo do ouvido o alarido frenético dos palavrões, das súplicas, dos disparos e gritos de dor, mas já não distingui na memória nenhum rosto completo. O olhar de pânico que me vinha à mente tanto podia ser de um como de todos os que morreram da outra vez em que estive naquele lugar, assim como o sangue que me perseguira até a soleira da porta. Lembrei que uma semana antes acompanhara com os olhos, em sentido contrário, o fio denso de líquido vermelho e minha visão chegara ao volume promíscuo, largado no chão, do ser de quatro cabeças e quatro bocas paralisadas na última sílaba da palavra Deus, com pés descalços, pés de chinelo, o par de tênis branco, e pés de sandália com unhas pintadas de escarlate...”
Filho de imigrantes alagoanos, Silvio R. Silva nasceu na cidade de São Paulo, em 1963. Foi bancário por 12 anos e é oficial de justiça desde 1991. Escreveu também o romance Destilado (2006) e o livro de contos Natureza Morta (2007).
Serviço:
Rito de Passagem
Silvio R. Silva
Scortecci Editora
Ficção
ISBN 978-85-366-1510-3
Formato 14 x 21 cm – 80 páginas
1ª edição - 2009