ESCRITOS... / Karê Chigres
“Ao invés de colonização, agenciação...” – diz Katia, em um dos inúmeros momentos certeiros, porque poéticos qual flechas de doces venenos, de seu trabalho. Concordo. Como concordo com os ritmos, os sons e as tonalidades por ela adotados para nos fazer partir pelo planeta, em sua Caravana, abandonando, ora de um só golpe, ora lenta e sorrateiramente, nossos pesados sapatos continentais. Concordo porque sou agenciada, não colonizada, por seu – e já nosso – trabalho.
Explico-me: ao tentar falar dessas viagens arriscadas – e haverá outro tipo de viagens? –, muitos acabam por se fazer comandantes (colonizadores) de um novo moralismo. Não é o caso de Katia: ela convida e seduz, arrastando à diferença, à processualidade, aos devires, nossos corpos potentes, nunca nossas almas ressentidas (mesmo quando declaradamente esquizoanalíticas). Não é arauto do invisível, profeta do indizível ou metafísica de um modo de inclinar-se. Ela simplesmente vê e ilumina, diz e entoa, inclina-nos (sem nos “inclinicar”).
Texto intempestivo, nunca bíblia – maior ou menor – do intempestivo. Plano de consistência de pequenos gestos de mãos, passagem ao infra-pessoal, clínica – se o querem – inatual. Em favor, sempre, das amizades, carícias e corpos. Beleza pura tropical. Se nota há que dar, escolheria eu, de preferência, acorde em tom maior. Mas, de volta ao continente, 10 (dez).”
Rio de Janeiro, 09 de julho de 1996. Heliana de Barros Conde Rodrigues – USU (RJ)
Ela nasceu Katia Regina Chigres, mas a vida, a arte, a literatura, os encontros, a transformaram em Karê. A Psicóloga, depois Especialista Clínica (UFF), artista plástica e poetisa, formaram um caldo fecundo que desembocou em Escritos... Por outro lado, a filosofia, que a acompanha desde 1983, atravessa toda a sua obra, com suas lentes de ver. Em exposições individuais e coletivas, a partir de 1981, mostrou sua arte através dos pincéis. Foi sócia fundadora da Casa de Cultura Tempo de Ensaio, no Rio. Foi coordenadora do Jornal do Tempo em 1991. Participou de bancas julgadoras de concursos literários, em 1993. Sua estréia literária aconteceu em 1993 com o livro A Procurada Palavra, quando dividiu a noite de autógrafos com uma exposição individual de artes plásticas. Segue em 1996, seu segundo livro, À Beira-Mar e o término de sua monografia intitulada Diferença. Em 1999, é chamada pela Prefeitura de Paraty para assumir o cargo de Psicóloga. Karê possui mais de trinta cursos em seu currículo multifacetado, tais quais: Encontros Internacionais Gilles Deleuze (UERJ), Práticas Ampliadas em Saúde Mental (UFRJ), Arte e Pensamento (Museu da República – RJ), Oficina de Literatura (Biblioteca Nacional – RJ), Ateliê Livre de Pintura (MAM – RJ), dentre muitos outros. Escritos... comemora esse caldeirão de influências.
Contato com a autora
katiachigres@bol.com.br
Serviço:
Escritos...
Karê Chigres
Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-4234-5
Formato 14 x 21 cm
252 páginas
1ª edição - 2016