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PEQUENAS HISTÓRIAS / Nege Além

ESPELHOS E CONTRAESPELHOS DE UMA NOVELA HUMANÍSSIMA - Iniciando o comentário ao livro anterior de Nege Além – Histórias bancárias – afirmamos que o autor agradava de pronto pela unidade temática, não havendo desnível de qualidade nos contos que reunira de dois outros anteriores. Já aqui, nesta novela, os capítulos unem-se pelo assunto único, andamento narrativo, excelência literária em todos eles, com vislumbres de contos ou tópicos independentes que deixam entrever tal peças unidas e levemente soltas. Esta amostragem formal é curiosíssima, eis que os capítulos ligam-se pelo tema unitário e, ao mesmo passo, fogem um pouco dele, dada a grande economia de meios do autor ao construí-los. Neste ponto lembra um pouco – lembra, apenas – Mestre Machado de Assis, que na unidade notável dos seus melhores livros valeu-se da forma livre de criação de Sterne e Xavier de Maistre. Motivo pelo qual temos aqui uma obra a um tempo una e difusa.

E, dentro deste aparato e jogo cênico criador, Nege Além trouxe ao vivo uma criação literária surpreendente. É a história do engraxate Dudu (Eduardo de Andrade), filho mais velho de uma família paupérrima e desvalida, numa cidade do interior de razoável nível social. Assunto que tem tudo para se banalizar, diante dos sofrimentos do pai doente, das aflições da miséria sem apelo que ronda o lar, e Dudu sem encontrar fugas ou meios que minorem um pouco isto. Banalizar-se porque vimos muitas histórias que assim se iniciam, com aparente força narrativa, para se perderem nas redundâncias sofredoras no andamento delas. Aqui, não. Aqui, nunca. As surpresas, inesperadas, e quantas vezes em amostragens rápidas, vão acontecendo através dos capítulos curtos, contidos, muito bem escritos, diálogos incisivos e oportunos, aprofundando, com isto, o psicológico ao correr do narrativo, o descritivo um tanto subjacente e elíptico.

Tudo gira em torno de Dudu: a família, os amigos, as personagens simples e importantes da cidade, e a própria alma da cidade, sua paisagem urbana e arredores. O notável é que o descritivo disto tudo, ao correr da própria vida de Dudu, jovem engraxate de boa conduta e determinado a encontrar também um lugar ao sol. É apenas o essencial, mas exsurge ele por inteiro através da conduta de Dudu. O autor mais sugere do que descreve e deixa que a imaginação do leitor complete o quadro, numa curiosa, moderna e oportuna criação a dois: autor e leitor. Não é qualquer ficcionista capaz de assim proceder.

Nege Além leva qualquer leitor a torcer vivamente por Dudu. Como dissemos, no andamento da história cada capítulo parece – enganosa aparência – um tanto descolado dela, soltos, abordando ações paralelas. Acontece que com isto desaparece uma perigosa mesmice redundante ao correr dos anos na vida da personagem e a obra se torna, como se tornou, poliédrica, com espelhos e contraespelhos curiosos. E tudo caminha para um final emocionante, que palpita no coração de qualquer leitor. Nege Além é escritor impressionista. As imagens vêm ao vivo de pronto. E Dudu é exemplo acabado de como vencer obstáculos pelos próprios meios, navegando entre pessoas bondosas e outras que são o reverso delas. Vida comum de um jovem de muita força interior. Mas nada de emblemático que resvale para o alambicado heroísmo. Isto é que é bonito. Isto é que palpita. O engraxate Dudu é criação humaníssima, do melhor nível literário. E inserida, sem favor, na arte moderna da ficção nacional.
Caio Porfírio Carneiro - Ficcionista e crítico literário - Secretário administrativo da União Brasileira de Escritores

Prezado Nege Além.
Muito obrigado pelo livro O Engraxate Dudu que você gentilmente me enviou, uma narrativa comovente, que vai fundo no coração humano. Receba os parabéns e o abraço de
Moacyr Scliar - Academia Brasileira de Letras - 15-07-2010

Não é de hoje, caro Nege Além, que conheço sua sensibilidade contística e domínio das letras. Obrigada. Além de seu exemplo constante e humano, ficará no leitor a criação de tipos, como a de O Engraxate Dudu, que nos conquista para sempre. Fraternamente,
Stella Leonardos - Academia Carioca de Letras - Rio, julho de 2010

Prezado Nege Além:
Recebi e li com grande proveito o seu livro O Engraxate Dudu, no qual você se revela contista de fôlego e com largo domínio da palavra e da expressão literária. Verossimilhança. Gosto de estética e sonoridade. Texto provocativo e cristalino.
Um forte abraço
Dimas Macedo - Fortaleza – CE

Meu velho amigo Nege Além, escritor que conheço desde a época da publicação de meu primeiro livro, deu a público um novo trabalho. Trata-se do Engraxate Dudu – UBE/Scortecci – SP – 2010, um romance dos mais humanos e tocantes sobre a trajetória do menino pobre, sempre à beira da miséria que, graças ao esforço próprio e à determinação de vencer, é aprovado no difícil concurso para ingresso num banco, como funcionário, objetivo alcançado de maneira honesta, sem as espertezas e malandragens com as quais muita gente pretende subir na vida sem esforço. Escrito de maneira simples e direta, o texto inspira sentimento e sinceridade. A luta do pobre engraxate, superando todos os obstáculos, engolindo “sapos” e suportando humilhações, é capaz de penetrar em todos os corações, mesmo naqueles empedernidos e duros que ignoram solenemente o sofrimento dos menos aquinhoados nesta vida. Está de parabéns o veterano escritor, embora eu alimente minhas dúvidas sobre o sucesso de um romance com tal entrecho nestes dias bicudos. Nege Além é autor de vários outros livros, dentre os quais Rua Taboão, coletânea de contos que tive ocasião de comentar na época do lançamento. O Velho Ipê-Amarelo e Mágoa de Convocado, todos lidos com interesse. Participou em diversas antologias de contos, tem publicado trabalhos na imprensa e pertence a várias entidades literárias.
Forte abraço
Enéas Athanázio

Serviço:

Pequenas Histórias
Nege Além

Scortecci Editora
Contos
ISBN 978-85-366-5061-6
Formato 14 x 21 cm 
208 páginas
1ª edição - 2017

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