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ZERADO / luCASTRO

A novela Zerado aborda a estória particular do garoto Augusto e está correlacionada com a história do seu bairro carioca, o extinto Catumbi, que (segundo legado jornalista de Guida Guedes) tornou-se alvo disputado da especulação imobiliária do Rio na década dos anos setenta, tendo em contra partida a rebelião dos moradores não familiarizados com o planejamento da construção da cidade nova. O foco das desapropriações agita os personagens em Zerado (tais como: Talião, Frei Nosso, a prostituta Ana Peru e outros mais) como que pulando de navio.

A obra Zerado é a combinação de ficção com a veracidade de alguns fatos para não transformá-la num catálogo tão somente. O playground dos personagens é o espaço aberto das suas palavras francas, as quais fazem suas residências na obra, cuja corrente situação é esta: a de tocar as bases dos anos setenta (quando da rebelião dos moradores do extinto bairro carioca Catumbi) e também as bases de outros elementos de valor cultural e preservação no contexto da integração urbana. A estória do garoto protagonista Augusto rola ao lado da história do seu bairro decretado porém resistido com o legado jornalista de Guida Guedes. Ao caminhar no seu enredo poder-se-á sentir debaixo da pele as aperturas de uma década que foi tão “embotada de cimento e lágrimas” (faço-me valer dessa lírica buarquiana), sendo esta ainda movida pelos mimeógrafos a álcool e antecedente ao florescimento da tecnologia dos anos oitenta. A narrativa é composta de intensos e idiomáticos personagens e de outros com procedimentos de entretenimento, tais como Ana Peru e BLO na jogada popular do hábitat. Inspirei-me a escrever sobre Augusto num dia em que vi uma equipe de paramédicos transportando para uma ambulância o corpo desfalecido de um operário que sofreu uma queda nas escavações subterrâneas do metrô da Segunda Avenida em Manhattan. Naquele momento, quis então preencher com carne os ossos da estória proposta de Augusto. E esta se tornou o meu desafio, sendo que o desafio maior não foi o de narrar, por exemplo, o garoto em outra pele ao ser perseguido pelo bandido Zoiudo e sua gangue, mas fazer mergulhar-me profundamente nas suas angústias humanas existenciais. E isto no exato momento em que foram postas em risco de desapropriação as moradias do povo do seu bairro. Augusto possui caráter forte, é inteligente e bem dotado nas garras. Não carrega no rosto o ar de tranquilidade estampado nos rostos de outros garotos ou filhos de políticos famosos que aparecem ao lado dele frente às câmeras da imprensa com as bochechas rosadas e sorridentes. Mas, sim, ele tem o olhar focalizado nos problemas sérios da vida e também para os questionamentos da sua fé crítica, e não uma escrava inocente das orações repetitivas. Isto a ponto de fazer o santo arquear as sobrancelhas e ao mesmo tempo colocar o sol no bolso. Fato marcante na sua estória é a sua primeira experiência sexual com Andrea, a garota da Barra, experiência esta tão atrelada e exigente dos primeiros socorros. A seguir, a sua estória se desloca de maneira brusca ao testemunhar um ato criminoso no recinto de uma igreja no centro do Rio. Creio que se fosse para escrever hoje (era virtual do Facebook e Instagram) a sua estória, tendo como cenário a erguida Cidade Nova, substituta do bairro Catumbi, eu não seria capaz de fazer isto. Por quê? Porque descaracterizaria o que há de provinciano no personagem catumbense. E, no mais, eu não queria vê-lo perder aquilo que foi mais importante na sua vida: a proximidade de seus amigos e também as perdas de outros valores envolvidos no bairro onde ele nasceu. Caso isso acontecesse, então seria de fato uma desapropriação humana para o garoto na jogada.
O autor

Zerado é o espaço aberto dos personagens entretendo e rebelando-se: Augusto: Não sirvo para ser santo, eu gosto de pecar. Santo Antônio: Não consigo ver você em você. Talião: Se depender de mim resolvo o problema do nosso bairro na base do olho por olho e dente por dente. Sra. Pia: Me pediu um cão de laboratório e ameaçou chuchar fogo no meu brechó. Ricardinho: Zerado é o estômago vazio e o filho não reconhecido pelo pai. Andrea (a garota da Barra): Nossa! Que trolha. Bia (a babá da mocinha): Novamente metida nessa da bezerrinha?.Neneuza: Assim como dois titios grudados um no outro?. Dorva (a secretária): Ela mesma, a garota da Barra que se transformou na sua barra. Sr. D.G.: Tenho que fazer o jogo, pois preciso comer. Sr. A.C.: Puseram-me aqui, mas não sei o que estou fazendo aqui. Zoiudo (o bandido): Vou contar até dez e se não aceitar fazer parte da nossa gangue vou zerar você. Ana Peru (a prostituta): Esta situação do Catumbi faz doer os meus mamilos. BLO (o travesti): Você vai sofrer hoje um ataque gay. Sr. Peri (o chefe corretor): Dê uma olhada no Diário Imobiliário e veja o que está passando no seu bairro.

Sabe-se do autor que nos anos oitenta atendeu os estudos de filosofia e teologia na PUC-MG resignando-se as suas aspirações religiosas, sendo parabenizado pelo seu reitor que logo depois resignou-se também

Serviço:

Zerado
luCASTRO

Scortecci Editora
Ficção
ISBN 978-85-366-5656-4
Formato 16 x 23 cm 
288 páginas
1ª edição - 2018

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