Perspectivas da maturidade
Antonio Mourão Cavalcante lançou, no último dia 06.10.2008, seu segundo livro de poesia, “Tempo de Baile”
O livro reúne 35 poesias que apresentam uma perspectiva da maturidade e, por extensão, o espectro da morte. Ao longo da obra, o autor contempla a vida de uma maneira diferente daquelas pessoas que só pensam em alcançar um objetivo específico - dinheiro ou poder ou filhos. Nas poesias de "Tempo de Baile", Antonio Mourão defende que o essencial é viver cada dia, com muita intensidade, daí a noção de dança. "A vida não é uma marcha, uma linha reta. É uma dança, mesmo", reforça o autor.
A poesia não é a principal atividade do médico e professor Antonio Mourão. "Mas, subitamente, costumam surgir idéias, uma observação, um achado. A partir daí, começo a escrever, burilar. Assim nasce minha poesia. Depois, junto tudo. E este apanhado acaba virando livro", explica. "Tempo de Baile" é resultado de um apanhado que começa com a poesia "Bom dia, tristeza" (1971) até chegar em "O velho lençol" (2007), num panorama que permite perceber como o autor mudou sua perspectiva de tempo.
No livro, porém, predominam poesias recentes, que nasceram das últimas experiências do autor, que sofreu diversos problemas médicos. "Retrato estas vivências em alguns momentos, mas de forma poética", diz. Para Mourão, poesia é uma "escapulida do inconsciente", como se fosse um sonho. "Se você junta muitos sonhos, percebe que eles têm uma lógica. O mesmo acontece com as poesias do livro, norteadas por idéias, como a questão da maturidade, apresentada como um tempo a ser curtido".
Isso é bem presente na poesia "Cachaça", onde o autor retrata a trajetória de um senhor que, há 50 anos, mantém um ritual diário de receber as pessoas em seu botequim. Em um dos trechos da poesia, ler-se: "Longos anos construídos de mais olhares e de mais histórias./ De outros fregueses. De outros dias./ Do tempo que passa./ Aberta a tampa./ Salta um néctar./ Nem é cachaça./ É a vida de Seu José/ destilada./ No olhar, no zelo, no tempo."
Uma das linhas condutoras das poesias do livro é a noção de que a vida é efêmera. "Na realidade, a vida é mesmo efêmera. E o partir é uma espécie de encantamento", compara. Isso fica evidente em "O adeus de Júnior", narração poética da história de um jovem que morreu atropelado na estrada: "Depois os pais construíram um pequeno oratório./ E, cada vez, na estrada há a lembrança dele./ Uma rosa. Muitas flores./ Todo o amor cuidadoso dos pais./ Depois morreu o pai./ Depois morreu a mãe./ Júnior ficou sem quem chore por ele./ A cruz na estrada hoje não tem lembrança./ Mas, foi ali que Júnior perdeu a vida."
Fonte: Diário do Nordeste - Caderno 3. NARRAÇÕES POÉTICAS (6/10/2008)