VIAGEM FRÁGIL / Lourdes Leite
(...) a marca que define, ou seja, o diferenciador entre uma obra literária e uma simples confissão, é a aptidão natural para a recriação da vida. Daí as experiências pessoais passam a ser apenas a substância bruta para a invenção de um universo paralelo, esse que chamamos arte. Arte é portanto o livro Viagem Frágil de Lourdes Leite, obra cujos originais acabo de ler, com a incumbência de prefaciá-la (...). É o primeiro livro individual dessa autora, com experiências editoriais anteriores apenas coletivas. Nas páginas de Viagem Frágil a principal personagem não tem nome. Ela é apenas um conceito de sofrimento que se conformou em sê-lo. É fatalista. É impotente. “Vou falar da DOR. A que enfraqueceu meu corpo e minha alma. Porque foi ela que veio primeiro. A dor do corpo é eternamente presente e de tanto estar presente faz parte da DOR maior. No princípio Primeiro veio o corpo – DOR depois veio a dor do corpo. Cansada de doer o corpo procurei refúgio.”
É também a narradora, que tudo vê como se estivesse sempre olhando pelo buraco da fechadura: “Aguçada pela curiosidade, já que estava só naquele corredor de madeira, levantou-se na ponta dos pés para ver pelo buraco da fechadura: QUE SUSTO!
O pai estava mordendo as pernas da mãe.” Foi o tempo, e ninguém mais, quem tutelou a personagem e se encarregou de fazer da menina espiadeira uma mulher culta, uma escritora dotada de sensibilidade. “Há alguém aí? Alguém que fale minha língua e que compreenda o que digo? Alguém que conheça os sintomas de fraqueza física, de fraqueza psicológica para enfrentar os problemas mais pequeninos desta Terra? Alguém que toque levemente minha pele, e que saiba receber o toque de minha mão? Alguém que escute com atenção o que tenho para dizer, embora o que tenha para dizer seja apenas o sentimento mais frágil que existe? Alguém que não critique, que diga apenas a verdade e que na verdade tenha piedade de minhas poucas defesas e seja complacente ao dizê-la.”
Excertos do Prefácio escrito pela escritora
JOYCE CAVALCCANTE
Presidente da REBRA – Rede de Escritoras Brasileiras
Nasce no Nordeste do Brasil. Vive em Lisboa para onde foi removida quando fazia parte do quadro de funcionários do Ministério das Relações Exteriores. Premiada duas vezes em Concursos Internacionais, publica as Antologias 500 Outonos de Prosa, e Verso (2000) e Luz e Sombra (2002), pela Editora Arnaldo Giraldo. Faz parte da REBRA (Rede de Escritoras Brasileiras), da qual é representante em Portugal. Com ela publica: Talento Feminino em Prosa e Verso (2002), Talento Feminino em Prosa e Verso II (2004), Presente de Natal em Prosa e Verso (2004), O Amor que move o Sol e outras Estrelas (2005), Antologia Talento Delas (2007) e Talento Brasileiro em Prosa e Verso (2008).
Serviço:
Viagem Frágil
Lourdes Leite
REBRA/Scortecci
Romance
ISBN 978-85-366-1331-4
Formato 14 x 21 - 148 páginas
1ª edição - 2008