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VIROU REGRA? / Claudete Alves

Mais uma vez Claudete Alves brinda o público com uma obra corajosa e instigante. Autora de Negros: o Brasil nos deve milhões, a pedagoga e Mestre em Ciências Sociais pela PUC São Paulo, agora revela um lado obscuro – posto que pouco explorado – das relações de gênero e etnia na sociedade brasileira.

O livro, baseado na sua dissertação de mestrado, apresenta uma reflexão sobre a solidão da mulher negra e a sua subjetividade face ao preterimento pelo homem negro, na cidade de São Paulo. No estudo que embasa a obra, a autora observou casais inter-raciais em diversos espaços públicos e analisou depoimentos de 73 mulheres negras sobre os temas: matrifocalidade, relações familiares, vida amorosa, felicidade, solidão e também sobre a relação entre a etnia e a escolha do parceiro afetivo-sexual.

A partir de uma leitura antropológica das formas contemporâneas de sociabilidades, a autora desvela as representações sociais históricas sobre o trânsito afetivo entre homem e mulher negros e analisa a percepção das mulheres acerca da preferência dos homens negros, principalmente os que ascenderam socialmente, pela mulher branca, como parceira conjugal. Nesta obra fica evidenciada a importância que têm, nos dias atuais, os relacionamentos interpessoais íntimos, para o alcance de um nível satisfatório de qualidade de vida e o impacto da falta destes na autopercepção das mulheres pesquisadas: sua solidão e sua dor.

Mas fica evidenciada também a resposta a esta dor que é a luta para que a população negra, por meio da educação, alcance uma valorização e a possibilidade de construir projetos que favoreçam a independência e a ascensão social. Transitando com facilidade por entre conceitos psicológicos e sociológicos, a obra oferece visibilidade às questões que envolvem os negros no Brasil o que, certamente, contribui para quebrar os estereótipos que estigmatizam as mulheres e os homens negros e que dificultam a identificação da população, em geral, com os valores, os costumes e os símbolos da etnia.
Profª Drª Ana Virgínia Santiago Araújo

Poema dedicado à Claudete Alves por esta publicação:

ABELHA MANDAÇAIA
Tão solitária e negra como eu
Abelha Mandaçaia...
...sem produção de mel
Desabitada a procura de flor
Para bebericar do seu encanto...

Lápis de olhos...
...a esconder águas salgadas
Como não consolidar
este isolamento, que me consome?
Esta falta de mãos grudadas
...pele que não afaga
Estou rifando essa soledade!
Trançar, eu quero, mãos pretas...

É querência de mar, e não de oásis
Perenidades entrelaçadas...
Em estações lunares e solares...

Meu viver tornou-se deserto...
Os dias quentes e as noites
congelantes
Um corpo sem afeto...
Repleto de roedoras,
Serpentes
E lagartas...

Peles bem alvas...
Alvejando-me por serem preferidas...
Será mesmo que elas resolvem
estes traumas de pretos meninos?

Em outras facetas, sou eu, serpente
Cascavel do deserto como queira...
Movimentando-me em silêncio
Para que as inimigas não me vejam...

Sentimentos fósseis...
... expostos pelas erosões
A vida inteira sem beber águas...
Longos jejuns sem morrer...
Força bruta que me dilacera
Estes secos dias, sem chuvas...
Só poeiras machucando minhas retinas.
Elizandra Souza
amandlamjiba@yahoo.com.br 

Claudete Alves, formada em Pedagogia com Especialização em Administração Escolar, Mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP. Uma negra em movimento. Professora de Educação Infantil e Universitária. Vereadora por dois mandatos na cidade de São Paulo (2003 a 2008), teve como principais áreas de atuação o combate à discriminação racial, defesa dos direitos da mulher, criança e adolescente e a defesa intransigente da Educação Infantil e de seus trabalhadores. Fundou e preside o Sedin, primeiro Sindicato de Educação Infantil do país. Autora da lei 13.707/03 que instituiu o 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, como feriado na cidade de São Paulo. Claudete Alves é idealizadora e proponente, junto ao Ministério Público Federal, da Representação que requereu o ajuizamento de uma Ação Civil Pública contra o Estado Brasileiro, pleiteando indenização aos descendentes de negros escravizados no Brasil.

Serviço:

Virou Regra?
Claudete Alves

Scortecci Editora
Comportamento
ISBN 978-85-366-2004-6
Formato 14 x 21 cm 
208 páginas
1ª edição - 2010

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