RETALHOS / Wladimir Moreira Santos
Em Retalhos, Wladimir Moreira Santos retoma contos já publicados em seu livro de estreia, poemas e contos acidentais e a eles acrescenta inúmeros inéditos, que se inserem perfeitamente na temática e no estilo das narrativas anteriores. Entretanto, a substituição do subtítulo “Desencontros”, sob o qual foram reunidos os contos do primeiro livro, pelo atual, “Retalhos”, já revela um percurso de amadurecimento do autor.
Ao preferir um termo neutro, genérico, que designa unicamente o aspecto fragmentário das narrativas à palavra carregada de conotações, que induz previamente a leitura do texto numa determinada direção, ele confere liberdade e isenção ao leitor e abre a possibilidade de uma alternativa dialógica. As situações apresentadas nesses contos são corriqueiras, mas assustam pela crueldade a elas implícita. Seus per-sonagens são homens grosseiros e violentos, que massacram os que lhe são subordinados; mulheres mal amadas, que se consolam com amantes, compras e fofocas; pessoas humilhadas, maltratadas, adoecidas pelo estresse advindo das relações no trabalho, na família, nas diferentes instâncias da vida social.
O eixo central desses “retalhos” da vida é constituído por uma oposição sistemática entre o lado escuro e opressor da existência no mundo contemporâneo e a obstinada busca de uma salvação possível. No polo negativo amontoam-se imagens da violência, da corrupção, da mediocridade dos seres que se tornam engrenagens de uma máquina, enfim, do amesquinhamento da vida. De situações cotidianas, emergem cenas de agressão, de crueldade, de infidelidade que provocam o isolamento do ser e desencadeiam pesadelos povoados por imagens terrificantes.
Nesse mundo kafkiano, determinado pelo absurdo e pelo fantástico, a impossibilidade das relações humanas torna-se patente. A presença de Kafka não se faz sentir apenas no compartilhamento de uma visão do mundo: no final do conto Alta pressão, após viver sucessivas situações dignas do autor tcheco, o personagem retoma a leitura de “O processo”. Em Praga, o personagem que recebe, como num pesadelo, uma condenação à morte, escreve uma carta de amor a uma mulher amada no passado, que possivelmente vive em Praga e compra uma passagem para esta cidade. A nuvem negra, carregada de violência e morte, que paira sobre os personagens narradores é, entretanto, de quando em vez, atravessada por raios de luz e réstias de esperança: a inocência da criança, o brilho da natureza, a força criadora do sexo, o poder transformador da literatura apontam sinais de vida possível nesse planeta opaco e sem aura.
Eliana Scotti Muzzi
Selo o envelope. Que, no vagar das ondas, este último sopro cruze o oceano Atlântico, como quando o Brasil foi descoberto em mil e quinhentos. Em meio a tempestades, doenças, falta de comida e água potável, os esforços dos portugueses para descobrir novos rumos, novas rotas, novas terras, triunfam. Como a fumaça do cigarro que trago entre um gole e outro do Bordeaux e, agora, ao revés, se espalha, cruza, na minha fantasia todos os mares e vai ao seu encontro, até você que, talvez, ainda viva na capital da República Tcheca, cheia de vida e alegria, contando histórias e sonhando com um mundo melhor, onde seja possível suportar a vida e o amor entre os homens em nosso planeta.
Serviço:
Retalhos
Wladimir Moreira Santos
Scortecci Editora
Ficção
ISBN 978-85-366-2358-7
Formato 14 x 21 cm
112 páginas
1ª edição - 2012
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